DEVANEIOS...IMAGINAÇÃO...FANTASIA..SONHO...QUIMERA

CAPÍTULO EXTRA XIX

 

OPÇÃO

 

 

Atenção!

Pára!

Câmeras!

Ação!

Corta!

De novo!

Desfaz e refaz as cenas. Consecutivamente.

Trabalho. Cansaço. Luzes. Longas horas. Estafa.

Finalmente pode voltar para o trailer. Respirar um pouco. Enfim, pode retirar as roupas de trabalho. Colocar as suas informais.

Ajeita-se no espelho. Mira seus próprios olhos na superfície do cristal. Eles indicam lá no fundo uma saudade. Saudade do que não vai ficar.

Um dia, talvez, poderá voltar a ter aquele alguém que lhe toca o coração nesse vai-e-vem constante do trabalho que um dia, fatalmente, vai ter um fim.

E só vai ficar mesmo esse sentimento arrasador. A saudade.

Resolve sair do trailer. Estabanadamente. Quer deixar o quanto antes aquele local cansativo.

Um encontrão. Um esbarro.

Sorrisos.

Um sorriso mais. Uma risada.

Também lança um sorriso. Num jeito ingênuo.

Dirigem-se para pegar o carro.

Ele sente-se como um adolescente ao cortejar a primeira namorada.

Ela encontra-se no auge dos seus desejos, ao lado daquele que preenche todas as lacunas do seu ser e de poder estar com ele em algum lugar, algum ponto esquecido da terra, só para os dois.

O ronco do motor. As rodas deslizando no asfalto.

Enquanto o vento fustiga-lhe os cabelos, ela coloca a mão nervosa por dentro do decote, como que desejando conter as batidas rápidas do seu acelerado coração.

Um furtivo beijo na face surpresa dela.

Aconchega-se àquele braço forte, de carnes quentes, que agarra o volante. Coloca a mão acariciadora na coxa dele.

Fala isso e dá uma risada cristalina. De deboche. Lá no fundo do peito, porém, uma dor. Sem consolo. Mas é bom insistir na conversa.

Só o silêncio já é a resposta.

O sinal vermelho mostra-se, ali à frente, brilhante. O veículo tem que parar.

Um suspiro dela. No peito frágil, irrequieto.

Um outro suspiro. Naquele coração dele, calado, que tudo quer suportar, mesmo a mais amarga solidão a dois no seu dia-a-dia.

Ela sente o braço quente dele ao redor do seu pescoço, numa carícia .

Fecha os olhos. Para sentir melhor as sensações.

O sinal verde abre, dando passagem. O carro prossegue.

Para que responder com palavras? Apenas dirige para ele seu olhar suplicante por carinho.

Encarou-o, muito séria.

A resposta é quase inaudível.

Olha os pontos de luz brilhante que passam em velocidade diante de seus olhos grandes e molhados.

Ele estaciona o carro. Saem.

As mãos se encontram. Quentes. Nervosas.

Ambos calados. Não têm muito o que argumentar. A emoção é mais eloquente que qualquer palavra.

* * *

Entram na suite. Ela lança um rápido olhar por sobre o conforto do ambiente. Isto tudo está em segundo plano, no entanto. Pouco interessa, se o melhor que acha para sua vida é estar agora na companhia de alguém que ama. E muito.

O abraço apertado os faz recordar muitos bons momentos. A respiração ofegante, as carnes trêmulas de desejo.

Os longos dedos dele rebuscam-lhe o decote procurando tocar nos recantos mais guardados dos seus seios.

Com os lábios sequiosos vasculha todo o pescoço e colo alvos, subindo para a boca entreaberta que espera a dele, ansiosa.

Mais uma noite de amor. Mais uma noite de tormento, também.

Por causa da saudade, que vai ficar..

E assim será, talvez para sempre. Pois é assim que preferem ambos viver, em momentos fugidios de amor.

É uma opção.

 

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