O homem caminha de um lado para o outro , afobado.
Tantos anos de trabalho, de sucesso, e, repentinamente, vê-se aviltado em seus propósitos de roteirista renomado.
- Mas, afinal de contas, o que está acontecendo aqui? Não está nada sendo conforme eu queria! Essa história já bem está me incomodando!!
- Mas do que se trata? Por que está tão irritado?
- Não é pra menos! Olha só o que anda acontecendo agora!
- E o que anda acontecendo agora? - o outro pergunta, sem entender tanta irritação.
- Os meus personagens! Os meus personagens querem agora fazer o que lhes vêm à cabeça!
- Explique-se, homem! O que é?
- Explicar-me?! Se acabei de dizer!
- Isso? Seus personagens... o que?
- Querem agora fazer o que lhes vêm à cabeça... e... bem... o negócio é que não vem só à cabeça...!
- Você está bem, amigo? - olha-o, preocupado.
- Essa não! Ainda acha que estou delirando...
- Calma, amigo. Vamos ver, então. O que lhe está incomodando?
- O que?! Mas eu já disse!! - resolve abrir o jogo - Olhe aqueles dois.
- Quem?
- Lá... - aponta, irritado - ... no canto.
- Ah, a Gilly e o Dave?
- Não. Absolutamente. Não eles e sim Mulder e Scully.
- Aaah, Mulder e Scully...! E o que tem?
- Não querem seguir meu roteiro como eu exijo!
O outro, ao seu lado, deixa o queixo cair, embasbacado. Imagina que o amigo endoideceu. Já mistura até a fantasia com a realidade.
Coloca a mão nos ombros do amigo:
- Acalme-se, Chris. Acho que está precisando de um descanso. Vem aqui. - chama-o a um canto - Você conversa comigo, desabafa um pouco e daí você passa a se sentir melhor.
- Eu não sei... eu não sei... - passa os dedos entre os cabelos, nervoso.
- Olha, cara, nunca o vi tão confuso!
Recomeçam os trabalhos.
Cenas. Cortes. Retoques. Recomeços.
- Mulder! Não devemos ir pra lá! Há um grande perigo naquele lugar!
- Scully... desde quando eu tenho que me curvar ante suas teorias tão científicas, mas nem um pouco corretas?
- Mulder... eu...
- Pára, Scully! Eu vou até lá, sim! Nada, nem ninguém me poderá impedir!
Scully cruza os braços, com ar céptico.
- Pois pode ir, Mulder, mas não queira minha companhia nessa investigação. Recuso-me a concordar com você!
- Tudo bem, Scully, tudo bem. - sai a passos decididos e retorna até ela, murmurando - Scully... eu quero dizer que, embora você me critique, Scully... mesmo assim...
- O que tem, Mulder?
Ele aproxima-se mais e mais:
- Você é a minha estrela guia, a minha verdade, a minha verdadeira razão em querer viver, somente para me tornar parte de sua existência...
Scully movimenta a cabeça para o lado:
- Tudo bem, Mulder, já disse o que o seu coração pedia. É só? - conclui, friamente.
- Perfeito!! - grita o Diretor, satisfeito.
Mas a cena continua a desenrolar-se no desempenho dos atores.
Ele aproxima-se dela, agarra-a pela cintura, mostrando-lhe quão ínfima e frágil criatura ela é diante de sua figura máscula e forte.
Scully deixa-se enlaçar no êxtase desse gesto doce e terno, embora decidido de Mulder.
E ela permite que sua risada cristalina encha o ambiente com seu som agudo e alegre.
E entrega os lábios vermelhos e carnudos ao poder irresistível da boca sensual e provocante dele, que a atrai.
Contra-regra!! Os meus comprimidos pra dor de cabeça!! Por favor!!
- Só um momento, senhor Carter!
E o beijo trocado entre Mulder e Scully incendeia-lhe os corações, atiça os que os assistem e endoidece aos que os dirigem.
- Corta!! - grita o Diretor.
- Mas que que é isso?! Até quando vocês vão querer me deixar doido, seus malucos? - brada Carter.
David aproxima-se de Carter; coloca a mão em seu ombro.
- Não se perturbe. Com você não haverá represálias...
- Por favor, vocês sabem que sim! Não só a Fox cairá em cima de mim, quanto a ...
- ... já sei, já sei. Não precisa dizer mais.
- Tudo bem. Por hoje é só! - grita o Diretor, por sua vez à equipe.
David volta-se agora para sua colega:
- Vamos, Gilly.
- Ok! Vamos, Dave. Até amanhã, pessoal.
E os dois saem de mãos dadas, trocando olhares e carícias sem fim.
C'est fini