"O medo é um impulso da alma que
se sacode ou cede diante do perigo
real ou imaginário."
La Bruyère
Capítulo 25
Mulder pousa sua mão sobre a de Scully segurando a cruz do cordão de ouro.
Scully meneia a cabeça afirmativamente.
Scully nada confirma.
Ele a faz levantar-se da rocha e caminham para o carro. Entram nele.
Mulder recomeça a dirigir.
A estrada, de início lentamente, vai aos poucos velozmente sendo engolida pelas rodas.
Scully apoia a cabeça no banco e olha o perfil de Mulder.
Ama-o; adora-o; sente que nele está o seu apoio, a sua força. Ele é a sua própria vida.
Sorrí levemente.
"Será que devo dizer que ele é o meu apoio, a minha força, minha própria vida?" - pensa.
Conclui, porem:
Ele joga um pouco a cabeça para o lado e sorri; o sorriso de menino que ela gosta de ver no seu semblante.
* * * * * * * * * *
Scully dobra vagarosamente uma peça de roupa, fitando-o
Ele a abraça ternamente.
* * * * * * * * * *
A cortina ondula na janela sob a brisa que sopra mansamente.
Os lençois revolvem-se sob os corpos ardentes.
Os lábios de Scully vão tocando a pele de Mulder, enquanto vai sentindo o odor do peito forte do homem amado.
As mãos dele acariciam-na e sente a quentura que emana da carne desejosa dela.
Não falam. Apenas conseguem manter o ritmo de suas afogueadas respirações.
Como num apelo ela murmura enquanto é acariciada.
Ele passeia os lábios por seu pescoço, enquanto com as macias pontas dos dedos apalpa suavemente as partes mais sensíveis do corpo dela, atravessando o seu farto decote, procurando com a boca depor todo o seu desejo, como se quisesse sugar dali a seiva de sua própria subsistência, sua vida, o seu sustento.
No auge da paixão seus corpos enlaçam-se, acariciam-se, embalam-se, entregam-se ao climax estonteante do amor.
* * * * * * * * * *
Seis horas da manhã.
Os dois jogados no leito, displicentemente entregues ao relaxamento do sono.
O tilintar do celular no bolso do casaco de Mulder desperta-os.
- Ah, não! - protesta Mulder, abrindo os olhos.
Espreguiça-se antes de resolver levantar-se para atender a chamada.
Scully movimenta-se na cama e vira-se para cima. Abre os olhos e vê Mulder levantando-se.
- O telefone? - ela pergunta.
Ele toma o celular. Atende.
Mulder desliga.
Scully o olha curiosa:
Entra no banheiro e após minutos sai arrumando a camisa dentro da calça. Chega até Scully, beija-a na ponta do nariz. Coloca o paletó, rapidamente.
Scully senta-se na cama:
Fala assim, sem sequer voltar-se para trás. Sai, batendo a porta.
* * * * * * * * * *
O sol já se pusera há muitas horas atrás.
Esta noite um ar abafado parece sufocar o espaço onde Dana encontra-se.
Havia chegado da Penitenciária, onde fôra fazer perguntas a um encarcerado e esperara encontrar Mulder já no Hotel.
Já tentara por todos os meios ter um contato com Mulder.
Agora, então começa a preocupar-se. Por que fizera a tolice de esperá-lo? Deveria ter ido com ele ao tal encontro... deveria ter procurado saber onde ele estava indo, antes que saisse de junto dela.
Sente-se angustiada.
Garras de ferro parecem apertar-lhe o coração preocupado.
Toma mais uma vez o celular. Digita o número de Skinner.
Dana desliga o aparelho.
Súbito, o mal-estar que a afligira dias atrás volta: tonteira, enjôo, palpitações.
Leva as mãos à cabeça:
"Meu sistema nervoso começa a demonstrar que meu estado está precário... um estresse..."
São os pensamentos de Dana no momento.
Sai a procurar na maleta de mão algum medicamento que a possa deixar em melhor estado.
Toma um pouco d'água, engolindo um comprimido.
Coloca a mão sobre o peito arfante.
Olha o relógio de pulso marcando 9:45 da noite. Dana pega o casaco, veste-o e, tomando nas mãos as chaves, prepara-se para sair.
* * * * * * * * * *
Enquanto leva o carro sem uma direção certa, os pensamentos de Dana a deixam em quase desespero.
"Quem estava chamando Mulder àquela hora? E por que ele não me avisou sobre algo, se tivesse que estar até essa hora com o desconhecido? Ele sempre entra em contato comigo a qualquer momento em que ocorre algum fato, alguma coisa que o deixa longe de mim..."
Seus olhos enchem-se de lágrimas. A angústia que lhe acorrenta o coração a deixa fragilizada, triste, levada por pensamentos desesperadamente perigosos.
Tem medo. Medo de que algo ocorrendo com Mulder a faça ficar sem o seu amado, a sua vida...
Lembra-se, subitamente, da frase que ele lhe dissera dias antes:
"Eu não tenho nada pra te deixar de mim, Scully!"
E as palavras dele lembradas agora atormentam-na horrivelmente.
* * * * * * * * * *
Scully caminha lentamente pelos corredores do FBI.
Está abatida; traz no rosto triste a desolação, a dor, a saudade.
Na sua mente embaralham-se os pensamentos por não entender o que realmente está se passando nestes dias de horror. Uma equipe de agentes estivera em busca de Mulder, sem sucesso, no entanto.
Tudo isso a deixa em ansiosa expectativa de notícias.
Os saltos altos dos sapatos de Scully ressoam sobre o piso frio por onde anda.
Desce os degraus lentamente.
Tem medo de chegar até sua sala de trabalho. Tem medo da reação que possa sentir ao certificar-se que a ausência de Mulder é agora mais do que um simples pensamento, porque é a mais dura e negra realidade.
Retira do bolso a chave. Gira-a na fechadura. A porta abre-se diante de si, parecendo ser a entrada de algum lugar estranho, lúgubre, fantasmagórico, terrível!
A sala está como ela e Mulder haviam deixado.
Ela caminha até a mesa.
Antes pára a observar o poster na parede.
"EU QUERO ACREDITAR"
As lágrimas afloram aos seus olhos.
Senta-se na cadeira. Sobre os braços dobrados na mesa, ela deita a cabeça e entrega-se ao pranto que a derrota neste momento.
Por vários minutos seu corpo é estremecido pelo choro. Levanta, finalmente a cabeça e olha à sua volta.
Tudo está como antes. Tudo exatamente nos seus devidos lugares.
Ali Mulder caminha no seu andar peculiar jogando os pés; ali ele joga-se displicentemente na cadeira, apoiando os pés sobre a mesa; ali ele diverte-se a atirar para o teto os lápis muito bem apontados que usa como dardos...
Scully fecha os olhos e pode ver os olhos verdes transparentes perscrutantes de Mulder, que parecem querer penetrar até o fundo de sua alma quando a olha; pode vê-lo colocar as mãos à cintura afastando o paletó para trás no seu jeito mais informal de ser; pode até ver o seu sorriso de menino desenhando-se no rosto, com a pele escurecida pela barba aparente, apesar de bem escanhoada.
E, num gemido, Scully deixa-se cair no chão, de joelhos, vencida, tragada pelo mar alucinante da sua desventura.
"A desventura sempre deixa uma porta
aberta para remediar os males que causa."
Montalvo